Trauma vicário na tradução

Nos stories do Instagram falei sobre 𝐭𝐫𝐚𝐮𝐦𝐚 𝐯𝐢𝐜á𝐫𝐢𝐨, e 67% dos seguidores (incluindo tradutores) disseram que o termo era novidade. Então, vamos falar mais sobre o tema.

Também chamado de 𝑡𝑟𝑎𝑢𝑚𝑎 𝑠𝑒𝑐𝑢𝑛𝑑á𝑟𝑖𝑜, o 𝐭𝐫𝐚𝐮𝐦𝐚 𝐯𝐢𝐜á𝐫𝐢𝐨 pode acontecer quando o profissional é exposto repetidamente a material traumático. Imagine um intérprete interpretando relatos abusivos de um paciente a seu terapeuta. Ou conversas entre policiais e vítimas de estupro. Ou repassando com frequência prognósticos de médicos a pacientes com poucos meses de vida. Ou um tradutor com um livro sobre ditadura pesquisando a fundo sobre casos de tortura. Ou traduzindo textos sobre mortes em guerras ou numa pandemia.

Além da carga intelectual inerente ao trabalho, os profissionais têm que lidar com suas emoções e reações ao ouvir/ler as histórias à sua frente.

O trauma acontece quando há um 𝑖𝑚𝑝𝑎𝑐𝑡𝑜 𝑒𝑚𝑜𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 que nos deixa sobrecarregados e não conseguimos processar as emoções geradas. Sintomas podem incluir:
🔸Fadiga
🔸Desregulação emocional
🔸Stress relacionado ao trabalho
🔸Vergonha
🔸Burnout
🔸Identificação com o material ou com a vítima
🔸Pessimismo, entre outros

Por isso, ao trabalhar com material “pesado” ou com conteúdo traumático, é importante adotar algumas 𝑒𝑠𝑡𝑟𝑎𝑡é𝑔𝑖𝑎𝑠:
🔸𝐶𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑚 𝑎 𝑠𝑎ú𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙: fazer atividades que relaxam e priorizar autocuidado
🔸𝐴𝑢𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑟 𝑎𝑢𝑡𝑜-𝑜𝑏𝑠𝑒𝑟𝑣𝑎çã𝑜: observar como se sente e se há sintomas de trauma secundário, stress ou burnout
🔸𝐸𝑞𝑢𝑖𝑙í𝑏𝑟𝑖𝑜 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑣𝑖𝑑𝑎 𝑝𝑟𝑜𝑓𝑖𝑠𝑠𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 e 𝑝𝑒𝑠𝑠𝑜𝑎𝑙: lembrar dos interesses fora do ambiente profissional e tirar a mente do material traumático
🔸𝑉𝑎𝑟𝑖𝑎𝑟 𝑜𝑠 𝑡𝑖𝑝𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑡𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙ℎ𝑜: pegar trabalhos mais leves para não se expor constantemente aos materiais traumáticos
🔸𝐵𝑢𝑠𝑐𝑎𝑟 𝑠𝑢𝑝𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑙𝑒𝑔𝑎𝑠: incluir sessões de “debriefing” (para processar as informações e emoções)

Outras profissões suscetíveis: enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, jornalistas, advogados, etc., principalmente quando têm que ser empáticos.