NAATI e prova CCL

Há alguns anos a imigração australiana vem dando mais pontos no sistema de pontos para vistos àqueles que apresentarem habilidades com línguas. Para comprovar essas habilidades sem precisar virar tradutor, os imigrantes agora podem prestar o CCL (Credentialed Community Language) Test.

Recebo muitas mensagens de pessoas migrando para Austrália com a seguinte pergunta: “Vi que você é tradutora NAATI. Estou para prestar o CCL Test. Você pode falar como é a prova?”.

A questão é que o CCL Test é uma prova diferente do teste para se tornar tradutor. Para se tornar tradutor NAATI, é preciso prestar a prova de certificação. O CCL Test é uma prova de interpretação comunitária apenas pra demonstrar a habilidade do candidato com o inglês e sua língua materna. Ao passar no CCL Test, o candidato não se torna tradutor; apenas ganha os pontos para usar no sistema de pontos para solicitação de visto.

Infelizmente não ofereço treinamento para tal teste. Porém o site da NAATI contém informações detalhadas sobre o CCL Test e FAQs para os candidatos. A prova é cara, há algumas regras (como pedir para repetir algum segmento, penalidades e tempo máximo da prova) e alguns requerimentos (como usar o registro e estilo corretos). Por isso, é importante ler todas as informações com atenção e se preparar com calma.

E, claro, se precisar de uma tradutora juramentada NAATI para traduzir seus documentos durante o processo de visto antes ou depois de passar no CCL Test, estou por aqui! 🙂

Boa sorte!

Nativo ou não nativo? Eis a questão.

Há muito debate no mundo dos tradutores sobre se tradutores devem ou podem traduzir para o idioma que é sua segunda língua. Muitos acreditam que os tradutores só devem traduzir ao seu idioma nativo; outros entendem que há tradutores com qualificação suficiente para traduzir ao seu segundo idioma.

Os tradutores certificados pela NAATI na Austrália passam por uma bateria de testes de tradução, cultura e ética profissional antes de serem oficializados tradutores e receberem a certificação e o carimbo para traduzirem. Eu fiz a prova da NAATI nas ambas direções – do inglês ao português e do português ao inglês -, e, para surpresa de muitos, obtive uma pontuação muito melhor quando traduzi ao inglês. Isso significa que, mesmo o inglês não sendo minha língua nativa, sou qualificada para atuar como tradutora NAATI do português ao inglês em um nível profissional, e atendo os níveis profissionais para traduzir nessa direção e atuar na profissão na Austrália.

Vale lembrar que sem um português bom ou sem a capacidade de interpretar corretamente o texto original em português, o tradutor (nativo ou não) não produz uma boa tradução em nenhuma língua. Não basta só saber um pouco da língua de partida; vírgulas e pontuação, aspectos culturais e muitos outros fatores são importantes na hora de interpretar o texto original e passá-lo ao inglês. Imaginem, por exemplo, a sutil diferença entre “todo território” e “todo o território” no português brasileiro. Palavras simples tiradas da carteira de habilitação brasileira (“Válido em todo o território nacional”). Sem entender a sutileza da língua de partida, um não nativo de português poderia pensar que o documento é válido em qualquer território, quando na verdade quer dizer “em todo o Brasil”. Esse é um exemplo simples de uma carteira de motorista. Mas imaginem quantas mais sutilezas não existem num programa de disciplinas ou ementas de 100 páginas de uma faculdade, que precisam ser intepretadas corretamente? O tradutor profissional, mesmo não nativo do português, sabe interpretar essas sutilezas. E mesmo não nativo do inglês, sabe produzir traduções de qualidade.

Tradutor bom e profissional é aquele que tem domínio tanto do idioma de partida quanto o de chegada, e que sabe utilizar ambas as línguas na hora de traduzir, interpretando o original corretamente e passando-o ao outro idioma com precisão e técnica, respeitando aspectos culturais, o tipo de texto e sua finalidade, os requerimentos linguísticos no país de chegada, entre outros.

Conhecer ambas as culturas e ter experiência cultural e de mundo também ajuda a produzir traduções de qualidade. Mais sobre isso neste post aqui.

Ou seja, não devemos selecionar um tradutor apenas por ser nativo ou não do idioma ao qual traduz. Devemos levar em conta outros aspectos também, como qualificação e certificação para traduzir, ética profissional, compreensão linguística e de ambas as culturas e países, profissionalismo, especialidade na área, compreensão terminológica, comunicação gentil e adequada com os clientes e colegas, pontualidade, etc.

Para traduções, sejam elas NAATI ou não, entre em contato.

Vamos falar sobre mídias sociais…

Talvez vocês não saibam, mas eu fiz um curso de marketing para mídias sociais, finalizado no mês passado. Devem até perceber que estou um pouco mais ativa nas diferentes plataformas e até criei uma conta no Instagram pro meu negócio de tradução, coisa que eu estava resistindo…

Mas eu sei, para quem fez um curso específico de marketing para mídias sociais, eu não sigo muito as regras do jogo. Digo, em cursos a gente sempre aprende o beabá e, se quisermos, podemos ficar só com o beabá pra ter sucesso. No entanto eu tento me conectar com aquilo que eu acho certo para o meu perfil. No curso, tivemos muitos estudos de caso de contas e perfis com milhões de seguidores e ouvimos sobre várias “fórmulas” de sucesso (do tipo, como aumentar o número de seguidores em questão de dias…). Eu tive a sorte e o azar de poder basear o curso e os trabalhos no meu próprio business de tradução. Sorte, porque pude, aos poucos, ir ajustando minhas mídias sociais e entendendo o conteúdo que quero compartilhar em cada plataforma. Azar porque, por ser autônoma, em um negócio de microporte, muitas dessas “fórmulas milagrosas” de sucesso para grandes negócios tiveram que ser dimensionadas e ajustadas ao meu caso e ao meu perfil especializado, com expertise, que trabalha com nicho de mercado e que gosta de se conectar com públicos diferentes.

Uma das professoras do curso me ajudou a definir com mais clareza o perfil de cada uma das minhas plataformas, assim consigo planejar melhor o conteúdo e atingir diferentes públicos. Então é isso que eu quero descrever aqui e convidá-los para me seguir nas outras mídias sociais, pois, no geral, cada uma tem um perfil diferente, com conteúdo diferente.

  • Este blog: em geral, os posts são mais voltados para colegas tradutores. Um espaço onde posso compartilhar um pouco do que sei e um pouco de como trabalho, dando dicas e contando da minha vida profissional. Há também informações sobre as traduções oficiais com as quais trabalho na Austrália como tradutora certificada pela NAATI.
  • Facebook: conteúdo bilíngue diverso sobre tradução e linguística, na maioria das vezes em uma combinação de conteúdo compartilhado (produzido por terceiros) com uma nota minha sobre a minha própria experiência naquele assunto.
  • Instagram: conta voltada para a comunidade brasileira em Adelaide e na Austrália, sobre as traduções NAATI. Como dito acima, essa conta é nova, então posso moldar os posts e o conteúdo com o tempo dependendo dos seguidores.
  • LinkedIn: em geral, conteúdo adaptado dos posts do Facebook (na maioria das vezes em inglês).

E, como sempre, estou aberta a dúvidas e perguntas, e tópicos que vocês queiram que sejam abordados em algumas das plataformas acima 🙂

Até já com mais conteúdo!

 

 

5 dicas para agilizar o processo de tradução

Tem tanta coisa acontecendo na sua vida na Austrália – você tem que estudar, trabalhar, se preocupar com visto e se vai dar para imigrar. Na hora de reconhecer a profissão e/ou solicitar visto, são tantos documentos nos quais pensar e para separar. Às vezes é preciso acionar pessoas lá no Brasil para tirar aquela certidão de que você precisa ou depender da boa vontade de ex-chefes e ex-empresas para te escrever aquela carta de recomendação com todas as informações requeridas e dentro do prazo para você ainda mandar traduzir.

Então, como agilizar o processo de tradução de forma que essa seja uma etapa rápida e tranquila, assim você pode focar nas outras atividades do seu processo de visto?

Aqui vão 5 dicas para agilizarmos o processo já desde o primeiro contato:

1. Anexe seus documentos já no primeiro contato. Ao entrar em contato com o tradutor, já envie uma cópia dos seus documentos por e-mail para orçamento. Pedir orçamento por telefone ou mensagem de áudio no WhatsApp ou Messenger só adiciona uma etapa a mais no processo. Por quê? Porque nós, tradutores, temos que ver os documentos para passar o valor e o prazo exatos. Alguns documentos são padrão, é verdade, como CNH, alguns antecedentes criminais e RG, porém outros documentos podem variar em termos de volume de texto, carimbos, apostilas, autenticações, anotações, etc. Nem só informar o número de páginas ajuda, pois algumas páginas têm mais ou menos texto que outras, e, pra sermos justos e precisos, temos que analisar cada uma. Assim, já vá direto ao assunto e mande os documentos anexados por e-mail. Vale dizer que toda a confidencialidade é mantida, mesmo se você não desejar prosseguir com tal tradutor. Nós, tradutores, seguimos o Código de Ética do tradutor, e Confidencialidade é um dos princípios do código.

2. Mencione se você precisa de tradução completa ou resumida. Alguns documentos não precisam que todas as informações sejam traduzidas. Pense num extrato bancário, por exemplo, às vezes com mensagens do banco ao cliente e várias páginas de transações quando na verdade você só precisa comprovar o saldo. Ou um contrato social com várias cláusulas não relevantes ao seu processo, sendo que você só precisa comprovar que era sócio daquela empresa, a qual tinha como escopo certas atividades específicas. Assim, o tradutor pode fazer uma ‘extract translation’, ou tradução resumida, na qual extrai as informações relevantes para serem traduzidas. Em outros casos, a tradução precisa mesmo ser na íntegra. Se a tradução resumida servir pra você, informe quais informações devem ser extraídas para tradução (uma boa maneira é destacar ou sublinhar as informações no documento). A escolha entre tradução completa e resumida pode influenciar no custo e no prazo.

3. Mencione se você tem um prazo em mente. Apenas dizer que precisa da tradução com urgência não ajuda muito. Na correria dos processos de visto, muita gente acaba querendo a tradução o mais rápido possível pra poder dar conta de tudo. Informe se o departamento de imigração, o seu agente/advogado de imigração, a universidade, o órgão de reconhecimento ou quem for te deu um prazo para o envio dos documentos. Talvez, em um prazo super apertado, o tradutor não consiga te atender, e aí você não perde tempo entrando em contato, aguardando orçamento, pra depois ver que não está no seu prazo (e o tradutor também não perde tempo analisando documentos e preparando o orçamento). Ou talvez o tradutor, já sabendo do seu prazo, consegue te passar uma especial para conseguir te atender e tudo já fica agilizado.

4. Mencione se você precisa da tradução impressa também ou só do PDF. A maioria dos vistos (se não todos, não estou certa) é solicitada online. Ou seja, você faz o upload dos seus documentos, incluindo as traduções, online. Então, talvez você só queira/precise da tradução em PDF, o que pode ser mais barato e mais rápido. Não tem problemas se você deseja guardar a via impressa pros seus registros também. Mas tenha em mente que o tradutor tem custo de impressão e carimbo ao imprimir as traduções, e isso pode alterar o valor final da tradução e o prazo (dependendo do número de páginas, pode levar tempo para carimbar e assinar tudo).

5. Mencione se os títulos das bibliografias devem ser traduzidos no caso de planos de ensino e conteúdo programático. Alguns órgãos de reconhecimento querem entender quais materiais didáticos foram usados no curso que você fez e pedem para os títulos serem traduzidos. A responsabilidade de saber se a bibliografia deve ser traduzida ou não é sua; busque a informação com o órgão de reconhecimento da sua profissão. E, claro, traduzir ou não a bibliografia afetará o valor e o prazo.

Já está com os documentos em mãos e precisa de tradução? Mande uma cópia deles pro meu e-mail (sofia.pulici@gmail.com) lembrando de passar as informações acima para agilizarmos o processo 🙂

Palestra: Localização e Transcriação

É com enorme contentamento que divulgo aqui que fui convidada pelo Instituto Australiano de Intérpretes e Tradutores (AUSIT), filial do estado de Queensland, para dar uma apresentação na 9ª. Miniconferência Anual. Embora muita coisa esteja acontecendo na minha vida neste momento, eu não pude resistir e aceitei o convite. É uma super honra ser convidada para compartilhar minha experiência e um pouco do meu conhecimento sobre o fantástico mundo da tradução com os colegas tradutores aqui na Austrália.

Na minha palestra, falarei sobre Localização e Transcriação. Essas são duas modalidades da tradução com as quais eu trabalho há alguns anos, e, conversando com colegas tradutores aqui, vi um interesse grande sobre o assunto. Darei uma definição breve das duas modalidades e, em seguida, mostrarei exemplos de textos que localizei para sistemas de reconhecimento de voz e discutiremos a transcriação de dois textos criativos.

A palestra ocorrerá no dia 8 de junho às 11:15, no Centro Multicultural de Queensland em Brisbane. Mais detalhes nas imagens 🙂

 

 

Traduções NAATI: perguntas frequentes

No mês passado expliquei melhor o que significa ser tradutora certificada pela NAATI (ou tradutora NAATI ou tradutora juramentada NAATI). Reveja a publicação aqui.

Apesar de muitos brasileiros pedirem tradução NAATI a todo momento, vejo que os clientes ainda têm muitas dúvidas e perguntas. Abaixo relaciono algumas perguntas frequentes:

1. As traduções NAATI (traduções juramentadas na Austrália) têm validade?

Não. As traduções feitas pelo tradutor certificado pela NAATI (ou como os brasileiros gostam de chamar, as “traduções juramentadas”) não têm data de validade.

A data de validade que aparece no meu carimbo NAATI (“Valid to”) é a data da minha licença/certificação como tradutora. Ou seja, depois dessa data, preciso revalidar minha certificação e pegar outro carimbo com a NAATI. E, mesmo assim, qualquer tradução feita antes disso é válida para sempre. A data está ali como pra dizer que, na data em que a tradução foi feita (“Translation date”), minha certificação estava válida, ou seja, eu estava apta/certificada a traduzir.

2. Quanto custa para traduzir meus documentos pessoais e acadêmicos, e qual é o prazo?

Apesar de alguns documentos pessoais serem padrão, muitas vezes levam carimbos, autenticações, averbações, apostilas, selos, verso, entre outros, que podem influenciar no preço e no prazo. Os documentos acadêmicos, principalmente os históricos escolares, variam em formato e conteúdo de uma instituição a outra. Por esses e outros motivos, preciso ver e analisar os documentos  para poder passar um orçamento com precisão. Clique aqui para solicitar orçamento.

3. Estou migrando para a Austrália. Quais documentos preciso traduzir para solicitar o visto?

Como tradutora NAATI, sou qualificada apenas a traduzir e não sou qualificada a dar esse tipo de informação sobre vistos e documentos necessários. Essas informações podem ser obtidas com o próprio departamento de imigração, com um agente de imigração ou com um advogado de imigração.

4. Preciso traduzir minha carteira de motorista (ou meu histórico escolar ou antecedentes criminais). Você presta esse tipo de serviço?

Sim. Segue abaixo uma lista dos documentos mais comuns enviados para tradução juramentada NAATI:

  • CNH (carteira de motorista)
  • Certidão de nascimento
  • Certidão de casamento (com ou sem averbação de divórcio)
  • Declaração de união estável
  • Certidão de óbito
  • Diploma e certificado escolar/ acadêmico
  • Histórico escolar
  • Conteúdo programático/ ementas
  • Certidão de antecedentes criminais
  • Extrato bancário
  • Contrato social
  • Contrato de estágio
  • Declaração de IRPF
  • Carta de referência
  • Comprovante de residência
  • Atestado médico/ prescrição médica
  • Certificado de reservista

Tem alguma outra dúvida? Ou precisa de traduções NAATI para seu processo de imigração, reconhecimento da sua profissão na Austrália, processo de candidatura em uma universidade australiana ou qualquer outro motivo? Entre em Contato.

Para ler depoimentos de outros clientes, clique aqui ou leia as avaliações/recomendações no Facebook.

 

 

 

 

 

Tradutor certificado pela NAATI: o que significa?

Na Austrália, para ser tradutor é preciso ter a certificação da NAATI (National Accreditation Authority for Translators and Interpreters), o órgão que testa os tradutores e intérpretes e os certifica a prestar serviços de tradução no país. Muitos (ou talvez todos) os órgãos governamentais, incluindo o departamento de imigração, as instituições de reconhecimento de profissão e muitas instituições de ensino só aceitam traduções se forem traduzidas por um tradutor certificado pela NAATI.

O que quer dizer ser tradutor certificado pela NAATI? Quer dizer que o tradutor passou por uma prova de habilidades culturais, uma prova de ética e uma prova específica de tradução. Uma vez aprovado, o tradutor recebe um carimbo e tem algumas diretrizes a seguir para a entrega de suas traduções em termos de formato, inclusão de certificação e rodapé, além do carimbo, data e assinatura.

O tradutor certificado pela NAATI é, portanto, qualificado para traduzir oficialmente na Austrália. Apesar de não precisar prestar contas, é como se fosse o tradutor juramentado do Brasil, no sentido de que as traduções são oficiais. Por esse motivo, é comum os clientes solicitarem “traduções juramentadas” para enviar à imigração, por exemplo.

Apesar do título de “tradutor certificado pela NAATI” (NAATI-certified translator), às vezes não fica claro para muitas pessoas o que realmente faz o tradutor NAATI ou tradutor juramentado NAATI, como também somos conhecidos entre os brasileiros. Recebo e-mails de clientes pedindo para eu autenticar cópias (como JPJustice of the Peace, ou juiz de paz) e até mesmo perguntando se redijo procurações. No entanto, como tradutora NAATI, sou apenas tradutora e não JP nem tabeliã. Procurações devem ser feitas em cartório ou, no caso de o cidadão brasileiro residir na Austrália, a procuração pode ser feita via processo consular. O que faço, como tradutora NAATI, é traduzir a procuração ou o documento autenticado, então, primeiro, o cliente deve ter os documentos prontos e depois me enviar para que eu prepare a tradução oficial com certificação, carimbo e assinatura.

Precisa de traduções NAATI para seu processo de imigração, reconhecimento da sua profissão na Austrália, processo de candidatura em uma universidade australiana ou qualquer outro motivo? Entre em Contato.

Usando a comunicação não-violenta com agências e clientes

Nesses anos de trabalho, tenho reparado que importante é tentar ser um parceiro da agência de tradução com a qual trabalhamos, e não meramente um tradutor autônomo que faz parte do banco de talentos de tal agência. O que quero dizer com isso não é que temos que ter um contrato diferenciado ou nos apresentarmos como “parceiro” de tal agência. A ideia de “parceria” está na nossa atitude para com o(s) gerente(s) de projeto e outros integrantes da agência.

Essa atitude diferente pode ser demonstrada de várias maneiras ao realizar um trabalho para a agência. Para mim, acho importante demonstrar que a gente se importa com o resultado final, e não com a fama de ser melhor do que o revisor ou qualquer outro tradutor. Isso quer dizer que, se você pegou um trabalho ruim ou mal traduzido para arrumar, ou está revisando um trabalho de outro colega, ou o texto original está muito mal escrito (ou veio pessimamente traduzido de outro idioma), a melhor maneira de lidar com o caso, na minha opinião, é mostrar que você se importa com a tradução final e você quer ver o cliente feliz. Para isso, talvez você precise de mais prazo ou de uma tarifa maior para aquele projeto, que o texto seja devolvido ao tradutor inicial para revisão extra ou que o cliente seja avisado que o texto original não está com a qualidade tão boa e, por isso, a tradução pode também sofrer.

Recentemente, recebi um glossário para ser revisado para um cliente novo de uma agência, e a estimativa de 1 hora para a revisão ortográfica e gramatical dos termos acabou virando quase 2 horas e meia, pois a tradução não estava boa. Aliás, era perceptível que não houve nenhum tipo de pesquisa por parte do tradutor: as traduções não eram nada relevantes ao contexto, as siglas foram mal interpretadas, etc., apesar de todos os termos serem encontrados facilmente no site da empresa em questão. Por conta da diferença de horário com a agência, eu não podia simplesmente deixar de retraduzir quase todos os termos do glossário e esperar o dia seguinte para falar com a gerente de projetos. Fiz o meu trabalho, tendo na mente o cliente final e o projeto que estaríamos começando em seguida. E, para esse projeto, o glossário era parte essencial. Fiz meu trabalho e, ao enviar o glossário revisado (ou melhor, retraduzido), com ele enviei uma observação dizendo que revisar o trabalho foi frustrante, pois percebi que os termos traduzidos não eram relevantes à área (salientei que os termos foram facilmente encontrados no site do cliente), portanto o trabalho não se limitou apenas à revisão gramatical e ortográfica, e acabou incluindo pesquisa e validação terminológica e retradução de quase todo o arquivo. E descrevi o cálculo do meu pagamento, dizendo o quanto na realidade aquele trabalho tinha me custado, devido ao meu tempo extra arrumando o arquivo.

Comunicar algo assim para um gerente de projeto pode ser difícil, e sou contra mandarmos um e-mail com uma mistura de ataques ao outro tradutor, reclamações e ordens exageradas. Vira e mexe temos um pé atrás de que a agência quer sacanear a gente e que o gerente de projeto é um monstro e não vai querer nos ajudar. No entanto, eu acredito que, se nos comunicarmos de forma carinhosa, empática e compassiva, sem esses receios e sem deixar as emoções interfirirem na mensagem, temos mais chance de obter o que queremos ou, ao menos, começar a criar uma parceria com a agência através de uma comunicação limpa e não-violenta.

A comunicação não-violenta é uma abordagem desenvolvida por Marshall Rosemberg que segue uma estrutura baseada em quatro pilares:

  1. Observação: observar os fatos sem fazer julgamento
  2. Sentimentos: identificar os sentimentos em relação à situação
  3. Necessidades: identificar quais necessidades estão associadas a esses sentimentos
  4. Pedidos: pedir certas ações para atender às necessidades identificadas

Veremos, para o exemplo acima da revisão do glossário, como a comunicação não-violenta foi aplicada:

Observação: a tradução estava com uma qualidade ruim e eu, como revisora, fiz o trabalho de pesquisa dos termos, que deveria ter sido feita pelo tradutor. Observe que não há ataques ao outro tradutor (se ele é ruim, descuidado, etc.).

Sentimento: como me senti frustrada por reservar uma hora para o trabalho, mas ter gasto mais que o dobro e ter feito um trabalho que não estava dentro do escopo da revisão.

Necessidade: da próxima vez, preciso saber que o trabalho de revisão envolverá também pesquisa dos equivalentes terminológicos, não somente uma revisão de gramática, ortografia e verificação de algum deslize do tradutor (que, claro, pode acontecer; não espero que a tradução venha 100% sem nenhuma falha), assim não me sentirei tão frustrada e podemos estimar o tempo necessário para o projeto com mais precisão.

Pedido: que a agência cobrisse, se possível, o tempo total que gastei no trabalho e que da próxima vez fosse mais clara quanto às instruções e o escopo do trabalho.

Resultado: me tornei a nova tradutora primária dentro da agência para aquele cliente específico. A agência me agradeceu pelo feedback (relatado no fato/observação) e que passaria o feedback ao tradutor; se lamentou por eu me sentir frustrada e agradeceu minha dedicação e meus insights (isso possível de acordo com a descrição de como me senti); se dispôs a aumentar o valor pago pelo trabalho para cobrir as horas extras e me informou que de agora em diante eu seria a tradutora primária quando o cliente solicitasse traduções.

A reação da agência provavelmente teria sido outra se eu tivesse escrito algo do tipo: “O tradutor mandou um trabalho muito ruim, refiz todo o trabalho, não é justo receber pelo o que fiz, nunca mais quero trabalhar com esse tradutor e nunca mais pegarei trabalhos de revisão.” Eu sei que nem todos escreveriam assim, mas, às vezes, dependendo de como você se comunica, é assim que a outra parte lê a sua comunicação.

Da forma como escrevi, a comunicação com a gerente de projeto foi empática, de parceria, e não repleta de ataques, ordens nem reclamações. E, assim, me rendeu um relacionamento de lealdade com a agência e com o novo cliente.