10 dicas de coisas que aprendi em 10 anos de carreira

Este mês é especial. Nele comemoro 10 anos como tradutora. Por ser um marco na minha carreira, foi natural refletir sobre lições aprendidas, conquistas, mudanças, ajustes e realizações. Por isso pensei em compartilhar com vocês 10 dicas de coisas que aprendi nesses 10 anos de carreira.

1) Seja curioso. Queira saber mais e mais. Qualquer assunto pode ser útil para um tradutor. Você nunca sabe quando alguma palavra daquele assunto aparecerá no seu texto ou terá alguma relação com ele, por mais distante que pareça da sua área de especialização.

2) Respeite seus limites físicos e mentais. Pode ser tentador querer trabalhar 12, 16, 20 horas quando se está começando (ou anos mais tarde), ou até virar a noite. Mas lembre-se que seu corpo é sagrado e que, com os anos, vai se desgastando. Se o corpo não aguenta mais ficar sentado, escute-o e pare. Se a mente está sobrecarregada, pare e descanse. Analise bem os trabalhos e prazos antes de aceitá-los para não sobrecarregar seus limites depois. Você não é super-herói, nem precisa ser. Durma bem, alimente-se bem. Isso tudo influencia sua jornada diária de trabalho, sua comunicação com o cliente e os resultados tradutórios.

3) Esteja aberto para receber feedback. Receber a opinião do outro (seja um colega, um gerente de projeto ou um cliente direto) sobre seu trabalho pode assustar no início, mas é algo, em realidade, valioso. É a sua oportunidade de crescer, de ver quais pontos na sua tradução não fazem sentido quando outra pessoa a lê, de aprender algo novo, de refinar suas habilidades tradutórias e mais. Esteja aberto ao feedback e agradeça por lhe mostrarem um novo caminho na sua tradução ou algum deslize que você não tenha percebido.

4) Faça parceria com um colega da área para que ele revise suas traduções e comente sobre elas. Uma das decisões mais felizes que tomei foi começar a traduzir para uma colega nativa de inglês, no início da minha carreira. Ela tinha um volume grande de trabalho e repassava para mim. Eu lhe enviava a tradução, ela revisava e adicionava comentários, explicando algumas correções, distinguindo um termo de outro ou puxando minha orelha para algum erro que cometi, mas que eu já tinha aprendido antes. É uma forma não só de aprender como de criar um vínculo bacana com outro profissional. Porém note: você precisa estar disposto a encarar o número 3 acima.

5) Saiba negociar prazo e tarifa. Não tenha medo de negociar prazo e tarifa. Você pode se surpreender! Muitas vezes o gerente de projetos ou o cliente dá um prazo que é conveniente para ele, mas talvez não seja um prazo definitivo. Se você, com jeito, explicar a razão de não conseguir cumprir o prazo e fizer uma contraproposta, talvez o cliente possa aceitar, ainda mais se ele gostar do seu trabalho. Mesma coisa com a tarifa. Se acha que está muito baixa, negocie, explique a razão de estar pedindo um valor maior (sem agressividades, mas mostrando seu valor profissional).

6) Participe de eventos da área de tradução. Dos dez anos como tradutora, demorei 8 para participar de eventos na área. Não que não achasse interessante, mas nunca colocava os eventos como prioridade na minha agenda profissional. Até o primeiro evento de que participei. O networking é fantástico, o aprendizado é enorme, e a inspiração e o estímulo na carreira são imensos.

7) Faça programas fora do horário de trabalho para balancear a solidão. Trabalhar como freelancer em casa pode ser muito solitário. No começo da carreira, não me afetava muito, mas depois fui sentindo que a solidão do trabalhar em casa estava sendo um pouco prejudicial. Foi então que comecei a realizar muitos programas com mais gente fora do horário de trabalho. Café com amigos, almoço com colegas, aulas de dança, academia, cursos… As opções são muitas e o contato com outras pessoas fora do horário de trabalho alivia as horas de solidão na frente do computador. (E não se esqueça que há ainda as opções de coworking and hoffice, que ajudam a balancear a solidão durante o próprio horário de trabalho, dividindo o espaço com outros colegas).

8) Entenda que você é mais que um tradutor freelancer. Trabalhar como tradutor freelancer não quer dizer apenas enviar propostas a clientes, traduzir e emitir nota fiscal. Significa ser também administrador do seu negócio, fazer marketing e promover seus serviços, cobrar pagamentos, ser blogger, ser contador, ser profissional de mídias sociais, ser negociador, etc. Lembre-se que, apesar de freelancer, você na realidade tem um negócio a gerir e, a menos que tenha uma equipe que o ajude, você deve cuidar de todos os aspectos desse seu negócio de tradução sozinho.

9) Aproveite o período de vacas magras. Naquelas semanas que não entra nenhum trabalho, não se desespere. Não jogue a culpa na crise. Tampouco fique apenas enviando CVs para Deus e o mundo. Aproveite esse período de baixa para atualizar seu CV, reciclar seus conhecimentos, limpar seu computador, estudar e ler artigos na sua área de especialização, fazer cursos, praticar o uso daquela ferramenta de tradução que você tem, compilar glossários, ler e responder perguntas nos fóruns online, atualizar seu perfil nas mídias sociais (mesmo que já estejam completos, faça alguma modificação, mexa a “energia” do negócio que está lá parado, que todo mundo já leu e sabe como é) ou lidar com os outros aspectos do seu negócio (ver item 8 acima!). Tem muito a fazer nos períodos de seca de trabalho. O que não dá pra fazer é ficar reclamando sem agir.

10) Não faça o que os outros tradutores fazem só porque eles fazem. A frase parece meio confusa, mas é isso mesmo. Talvez alguns tradutores que você conheça tenham comportamentos, atitudes ou linhas de trabalho específicas e, porque eles fazem desse jeito, você quer copiar. Não! Seja autêntico. Foque seu tempo e sua energia naquilo que você acredita. Se tem tradutor aceitando trabalhos de uma  área específica e você acha melhor se especializar em outra, siga o que você acha. Se você acha que vlogs não são sua cara, tudo bem! Você não precisa começar a gravar vídeos porque a tendência agora é todo mundo fazer vídeos sobre a profissão. Quanto mais realizar atividades dentro da profissão que tenham a ver com você, mais chance você tem de atrair coisas boas, se conectar com as pessoas certas e muito mais. Seja você. [Nota: certamente há tendências que acho imprescindíveis (por ex., trabalhar com CAT) e, nesses casos, penso ser fundamental que todos sigam a tendência. Discernimento e bom senso são valiosos aqui.]

Agora, que venham os próximos 10 anos de carreira! 🙂